Falar sobre a questão de gênero é sobretudo falar da complexidade abissal que envolve o desejo humano. É tarefa árdua e perigosa, e se deve evitar, à todo custo, que a moral compareça, que o bom senso impere e que o julgamento se instaure. É preciso aceitar a diferença.
O espetáculo “dizer, e não pedir segredo” é um mergulho no universo da homossexualidade masculina no Brasil sob uma perspectiva histórico-social. Pretende-se falar do que seria a construção de uma identidade gay em paralelo a construção de uma identidade brasileira.
Nesse sentido, o texto da peça, criado de forma colaborativa pelos atores e direção, embaralha os tempos, vai e volta cronologicamente, e constrói, numa linha evolutiva , um olhar sobre o desejo.
Os textos passam pelo olhar da criança, num primeiro momento, olhar que nada julga sobre o desejo, que se expressa de maneira libertária, sem amarras, por não saber ainda categorizar os valores. Ao mesmo tempo em que estes textos se contextualizam num tempo histórico onde o Brasil ainda engatinha, ainda dá os primeiros passos para construir a sua ‘ grandeza épica de povo em formação’.
“dizer e não pedir segredo”, enquanto encenação, vai se construindo, com a cumplicidade da platéia, que interage e assiste às cenas dentro do próprio espaço cênico: uma sala, que poderia ser qualquer sala, de qualquer família brasileira, lugar onde por hipocrisia ou medo nada se revela, ou melhor, tudo se apresenta velado, sob os signos reconhecíveis da norma padrão, de uma sociedade heterossexual falocêntrica que dita as regras. Na peça a sala, como um possível ícone desse padrão, se desvela aos olhos da platéia conforme os códigos cênicos vão sendo dados. Os espectadores escolhem onde sentam, escolhem adereços e figurinos,e compõem com seus corpos e gostos este ambiente de estar, transformando-se em sugestões de personagens, ações, climas e situações. Esta interatividade é feita de maneira delicada e gradativa, e faz com que a dramaturgia se renove a cada apresentação.
Nesse sentido, ‘dizer e não pedir segredo’, é um espetáculo intimista, que pretende tratar um assunto delicado de maneira abrangente, sem o estigma do gueto.
À medida que o espetáculo avança, os jogos cênicos vão se sofisticando, passando dos monólogos iniciais para cenas de duplas, trios e com a platéia interferindo e modificando a dramaturgia de maneira mais profunda. E adentramos num Brasil cada vez mais consciente da necessidade de amadurecimento. O olhar da criança vai ficando pra trás, os valores e preconceitos são introjetados, discutidos, colocados em conflito nas relações familiares, mães e filhos, pais e filhos, nas relações de classe, nas relações de poder. É preciso matar a criança dentro de nós para que não haja ameaça plausível aos padrões estabelecidos. Mas essa morte pode e deve ser simbólica, sendo o papel da arte o de achar a saída possível, o de nos fazer confrontar com os nossos fantasmas, e redimi-los. E assim, nos revelarmos, nos desvelarmos. Nas nossas ricas diferenças.
Caros Artistas!
ResponderExcluirPrimeiramente obrigado pela recepção.
Agradecemos se me encaminhar mais informações sobre outras peças.
E espero que aprecie a postagem.
Veja a matéria
Muito Obrigado
Olhar Turístico
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